Como usar os acordes em blocos : primeiros passos e sugestões para o arranjo
Na hora de começar a tocar uma melodia cifrada e montar seu acompanhamento, podemos nos deparar com algumas dúvidas e/ou situações repetidas, que nos estimulam a buscar novas possibilidades.
Por isso, mostro aqui sugestões e alternativas para quem está iniciando e para quem quer saber um pouco mais sobre algumas práticas usuais.
O início de tudo: colocar os acordes em blocos
Este é o primeiro passo para quem está começando a praticar a leitura de cifras e a montagem de acordes na hora de acompanhar uma melodia.
Mesmo que em alguns momentos soe um pouco estranho ou o som fique um tanto “embolado”, esta fase é necessária para o aprendizado.
Na pauta para piano, com as claves de sol e clave de fá, o esquema melodia-acorde fica assim:
melodia na mão direita e o acorde na mão esquerda
A harmonização por acordes em blocos – também chamados acordes fechados – ocorre quando as notas do acorde são distribuídas seguindo a sequencia das notas, sem “pular” nenhuma, já que desta outra maneira, são os chamados acordes abertos (mas isto é assunto para outro post!).
Posição dos acordes
Para facilitar a memorização, o melhor é colocar os acordes na posição fundamental, ou seja, com a tônica do acorde como nota mais grave. Veja o exemplo na pauta para a sequencia D – Em – G – D :
Algumas observações…
Podemos destacar alguns pontos, como a ocorrência de saltos grandes de um acorde para outro e a falta de clareza na sonoridade, especialmente na região grave (que resulta em um som “embolado”).
Dependendo do andamento da música, também podemos observar que o ritmo fica um tanto parado, ou seja, o acompanhamento segue sem movimento, causado pelo acorde de longa duração.
Assim, temos uma sonoridade resultante não muito agradável ou que se torna repetitiva. Então, qual seriam as opções?
Vamos às sugestões e alternativas:
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Use inversões de acordes
Para algumas situações, use os acordes invertidos nos tempos fracos (mesmo que não esteja na cifra), pois não só facilita a passagem das notas na hora de tocar, como faz o encadeamento ficar mais suave, ou seja, faz as vozes caminharem de um acorde para outro com o menor movimento possível.
Assim, evitamos os saltos entre acordes e obtemos um resultado sonoro mais sutil. Veja o exemplo com a mesma sequencia, agora com o acorde de G invertido no tempo fraco do compasso:
Mas atenção! Isso não é uma regra, depende dos acordes envolvidos, do estilo, do contexto… Manter a tônica no grave é importante e com a prática, compreendemos e percebemos onde as inversões se encaixam melhor.
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Evite a região grave
Às vezes, não tem jeito, principalmente para o iniciante, que está começando a localizar os acordes…mas se puder encaixar um acorde na região médio-grave, melhor. As terças não soam claras no grave (existe uma razão ligada à física-acústica e à nossa percepção auditiva, mas não vem ao caso aqui). Então, a dica é ter cuidado e evitar usar acordes por exemplo, abaixo deste local:
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Evite a região “aguda”
É isso mesmo, serve para o outro extremo. A região “aguda”, na verdade, é média indo para o agudo. Harmonizar com acordes nesta região (mais ou menos ultrapassando o dó central) pode ser que enfraqueça o acompanhamento, especialmente se a melodia estiver próxima dos acordes:
O acorde perde a “profundidade”, ou seja, perde o efeito grave, já que está na região da melodia e, por isso, não realça e não faz um contraste com a linha melódica.
Claro que, dependendo da intenção, isso não se aplica. Pode ser que o arranjo seja para soar somente no agudo ou seja do tipo “melodia no grave com acompanhamento no médio-agudo”, então o arranjo segue outro rumo e tudo bem!
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Use o acorde de tônica como referência
Esta na verdade é uma orientação para quem começa a tocar uma música, mas não sabe muito bem na hora de localizar os acordes, se sobe ou desce, ou seja, se vai para o agudo ou grave…afinal, diferente do que as notas na pauta mostram, as cifras (que são somente as letras e números) não indicam para qual oitava seguir.
Então, a sugestão é definir toda vez que for o acorde da tonalidade, ou seja, na música tonal, falando em função harmônica, quando for a tônica (grau I), usar a mesma localização, como um ponto de referência, um ponto de chegada.
Nos exemplos acima, como a tonalidade é ré maior, o acorde de ré (D) que é a tônica, foi sempre usado na mesma oitava:
Sem dúvida, muitas vezes é preciso ou fica mais fácil e sonoramente melhor mudar de local, mas como sempre, depende do contexto, dos acordes que vem antes e depois, do estilo, etc.
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Experimente mudar o ritmo
Para driblar o ritmo “parado” de acordes que ficam apenas apoiando a melodia, a alternativa é mexer no ritmo do acompanhamento. Por exemplo, experimente tocar os acordes duas vezes em um compasso (ao invés de uma vez só) ou a cada tempo do compasso.
Mesmo que fique um pouco marcado, dependendo do arranjo, pode ser uma boa solução para trazer um movimento diferente no acompanhamento. Do exemplo inicial, veja a mudança rítmica ao colocar os acordes em colcheias (6 colcheias por compasso):
Mudança rítmica dos acordes
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Faça testes, explore o “ouvir” !
Esta última sugestão provavelmente estará sempre presente nos posts! No mundo da composição, do arranjo, da criatividade, isto é uma constante, talvez até uma necessidade…
Cada arranjo traz um gosto particular, independente de técnicas ou aspectos teóricos. E cada um tem um ouvido e uma sensibilidade diferente, então, se por algum motivo o usual e o que foi recomendado evitar trouxe exatamente o efeito contrário, então mude e siga outros caminhos!
Faça experimentos e use os ouvidos para dar a definição final do seu arranjo!
Espero que estas sugestões possam ajudar quem está começando e quer entender um pouco mais sobre o assunto, de uma maneira prática e sem complicações.
Para finalizar, neste vídeo mostro o uso dos acordes em blocos em um trecho de música, abordando os pontos trazidos aqui (os acordes iniciais são os mesmos dos exemplos acima) e também uma mudança na região da melodia.
Alguma outra sugestão? Deixe seu comentário!
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